Notas de Aula II

EXISTÊNCIA E CONSCIÊNCIA, SEGUNDO KARL MARX.
Claudia Pierre


O texto aqui desenvolvido fundamenta-se n’A Ideologia Alemã’ de Karl H. Marx e F. Engels, somente no tópico em que se contrapõe às idéias de L. Feuerbach e, portanto, englobando a concepção idealista adotada por Hegel, a que criticam em alguns pontos, conservando, porém, várias de suas idéias básicas.
Marx explicita nas Teses sobre Feuerbach, as divergências entre as concepções materialistas do mundo que ambos acreditavam e defendiam. Ele afirma que o materialismo feuerbachiano se traduz por ver a realidade de forma sensível, intuitiva, negando a atividade prática do ser humano. Tal não ocorre, porém, com o materialismo dialético, como se verá no decorrer desta dissertação.
Nas demais teses ele discorre, embasando uma após outra, em sistema de decorrência, o caráter metafísico em detrimento da práxis humana. Daí ele declara que o pensamento é corolário da condição material de cada ser no mundo, que não apenas os homens são moldados pelas circunstâncias, mas são produtos e produtores de seu meio; que a alienação do trabalho se superpõe à alienação religiosa; que não há essência humana, há sim, homens no conjunto de suas relações sociais, produtos de determinada época histórica, de determinados meios de produção (entenda-se por determinado, segundo a interpretação de Marilena Chauí “resultados que constituem uma realidade no processo pelo qual ela é produzida, pressupondo pois, uma realidade como processo temporal); que por Feuerbach conceber o homem em sua essência, ele se limita ao estudo da sociedade civil, enquanto que o materialismo dialético, por concebê-lo em sua transitoriedade, em sua prática histórica, tem dispositivos para estudar a sociedade humana em sua evolução.
Por fim, sua crítica última lança uma revolucionária asserção, pois que sendo a prática humana que dita a história, necessário se faz transformar o mundo ao invés de somente compreendê-lo, já que compreendê-lo por compreendê-lo é um ato inócuo. A concepção materialista dialética dá margens assim à mudanças radicais no seio da sociedade. É baseado neste materialismo, no qual Marx faz oposição às idéias hegelianas, onde o espírito rege os homens, que Marx e Engels fundamentam a teoria de que não é o espírito o motor da história, mas sim contradições geradas na história do modo como os homens se reproduzem a si mesmos, como produzem e reproduzem suas relações com a natureza e primordialmente como produzem e reproduzem suas relações sociais. Ou seja, seu pensamento é o pensamento de sua condição histórica no mundo devidamente determinadas. “Não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consciência”. Essa sua afirmação corrobora o que foi acima exposto.
Portanto, a ideologia em geral, especialmente a alemã, desenvolve-se dentro do pressuposto de que há somente uma ciência: a ciência da História, desmembrando-se em História da Natureza e História do Homem, estando entrelaçados. Como a ideologia é uma concepção desta história, ou uma abstração dela, é essencial conhecê-la. Daí o estudo de estágios de desenvolvimento pelo qual os homens passaram, onde a cada estágio, desenvolve-se uma ideologia. É pois, dentro da historicidade humana que se compreende suas ideologias.
Não adotando apenas a Filosofia (na qual, entre os hegelianos de esquerda, a religião dominava), Marx lida com a História, com fatos históricos verificáveis, não se abstendo em dogmas ou imaginações. Parte do pressuposto do modo como as coletividades humanas se desenvolvem para subsistir. O homem se relaciona com a natureza, de forma como esta condiciona a organização social, limitando-a ou desenvolvendo-a. Para Marx, o homem distingue-se dos animais, não pelo fato de pensar, mas pelo fato de produzir seus meios de vida; o que produzem e como produzem determinam seu pensamento.
À medida que se desenvolve a produção e reprodução do meio de vida, aumenta a população e com ela, as relações recíprocas, condicionadas pela produção mesma. Essas relações ocorrem dentro e entre nações e depende do grau de desenvolvimento das forças produtivas. Esse grau de desenvolvimento corresponde diretamente á divisão do trabalho; ou melhor, a divisão do trabalho demonstra de maneira clara o quanto as forças produtivas estão desenvolvidas. Essa divisão leva primeiramente a uma divisão entre cidade e campo, e posteriormente – na cidade – entre trabalho comercial e industrial. Simultaneamente ocorrem divisões do trabalho dentro dessas atividades comercial e industrial e o modo pelo qual se exerce o trabalho agrícola, industrial e comercial condiciona posições dos indivíduos em tais subdivisões.
Essa divisões se polarizam em classes opostas, que se fazem presentes em todas as formas de propriedade privada ( que é um termo análogo à divisão do trabalho) excetuando-se a tribal, pois que nela é pouco desenvolvida a produção, onde então, a estrutura social é tão somente uma extensão da família. Além desta, há o modo de produção comunal – com desenvolvimento de propriedade móvel e depois imóvel; feudal ou estamental – na qual se dá a transferência do campo para a cidade e por fim a capitalista que ultrapassa a indústria doméstica, desapropriando por completo o proletário e oferecendo em seu bojo condições para o aflorar da sociedade socialista e finalmente, haveria a soc. comunista, consistindo essa no modo de vida similar à tribal, só que um comunismo científico, onde desaparecem as classes opostas existentes nos demais modos de produção.
Concluindo, para Marx “indivíduos determinados, que como produtores atuam também de modo determinado, estabelecem entre si relações sociais e políticas determinadas”.
A observação empírica demonstra a conexão entre estrutura social e política e a produção. As representações elaboradas pelos indivíduos são representações a respeito de sua relação com a natureza ou sobre suas mútuas relações, ou a respeito de sua própria natureza. É evidente que essas representações são a expressão consciente – real ou ilusória - de suas verdadeiras relações e atividades, de sua produção, de seu intercâmbio, de sua organização política e social.
A produção de idéias, de representações está, de início, diretamente entrelaçada com a atividade material; o representar, o pensar, o intercâmbio espiritual dos homens aparecem como emanação direta de seu comportamento material. O mesmo se aplica para a produção da política, das leis, da religião de um povo.
A consciência jamais pode ser outra coisa do que o ser consciente, e o ser dos homens é o seu processo de vida real. Mais uma vez, retornando à frase chave: ‘não é a consciência dos homens que determina a existência é, ao contrário, a existência dos homens que determina a consciência”.

Fonte de pesquisa: A Ideologia Alemã (Marx, Engels); Teses sobre Feuerbach (Marx) e O que é Ideologia ( Marilena Chauí).